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ANÁLISE – o verdadeiro Haas VF-22 vem cheio de detalhes

O VF-22 foi à pista

A Haas foi a primeira equipa a mostrar o seu novo carro para 2022. Quer dizer, mais ou menos. Antes das apresentações de toda a gente e quase sem aviso, a Haas simplesmente mostrou algumas imagens do VF-22. Essas imagens digitais eram, segundo Günther Steiner, uma versão inicial do desenvolvimento do carro de 2022. Uma coisa era certa, o carro mostrado não era a maquete da FIA pintada com as cores da Haas (a olhar para ti, Red Bull!). Agora, a Haas levou finalmente o novo carro a dar uma volta na pista e podemos ver realmente como é o VF-22.

Desde então, vimos praticamente todos os novos carros, entre eles o novo Ferrari e vimos também que Steiner não estava a mentir. E porque é que o F1-75 é relevante aqui no meio? Porque o VF-22 é um primo muito próximo do Ferrari. A Haas este ano estreitou os laços com a Ferrari e tem agora uma equipa em exclusivo em Maranello. A Ferrari ficou com excesso de pessoal devido ao budget cap e algum pessoal foi alocado à Haas. Poderia ser de esperar um quase clone do F1-75 mas na verdade são bastante distintos. O conceito aerodinâmico seguido por ambas as equipas é idêntico mas conseguimos ter resultados finais suficientemente distintos.

Quanto àquilo que se vê, o Haas segue o caminho da Ferrari e surge com pushrod à frente. Na primeira maquete acreditamos que estariam a esconder o jogo (a especulação de que a Ferrari iria para uma solução pullrod era muita e acreditamos que o VF-22 seguisse o mesmo caminho, daí esconderem o jogo) mas erramos completamente. Se acertássemos sempre, isto nem era o Bandeira Amarela.

A asa da frente

Uma das diferenças face ao “primeiro carro” a saltar logo à vista é a asa dianteira. Perfis muito mais planos do que aqueles mostrados na apresentação. Ainda vamos voltar a esta asa mas primeiro vamos acabar o “descubra as diferenças”. Vêm as entradas de ar nos sidepods? Bem maiores? E aqueles corninhos por baixo da T-cam? Estão a ver? Então reparem também no outro par na cobertura do motor, na imagem do carro na pista surgem mesmo ao lado do halo, estão a ver? Pronto, não se esqueçam deles que já lá vamos. Antes disso, uma palavrinha para os espelhos.

Estes mantiveram-se desde o primeiro boneco, são espelhos de baixo arrasto e este ano já vimos algumas interpretações dos mesmos (como é o caso do AlphaTauri). O convergente criado por estes espelhos ajuda também a acelerar o fluxo, permite aderir à superfície dos pontões e levá-lo pelo caminho pretendido.

O VF-22 que vimos em pista (à esquerda) vs o mostrado na apresentação (à direita)

Os corninhos

Isto é linguagem técnica de elevado nível que não vão ler nem ouvir em mais nenhum site de Fórmula 1. Vamos falar dos corninhos do Haas. Começamos ali pelos que estão assinalados pela seta azul. Não é exactamente novo nem inédito este ano, o primo de Maranello também utiliza uma solução idêntica. O objectivo principal destes apendêndices é promover uma melhor adesão do fluxo à cobertura do motor e à shark-fin. Por falar em shark-fin, o Haas tem uma coisa muito gira mas havemos de lá chegar.

Apêndices interessantes neste Haas…

Quanto aos corninhos indicados pela seta amarela, vamos pedir a ajuda do Lewis Hamilton para explicar. Vejam a imagem abaixo: vêm aqueles fuminhos na asa traseira do McLaren? É basicamente um escoamento visível e temos ali dois vórtices que se formam devido a diferenças de pressão na parte superior e inferior da asa. Temos pressão elevada sobre a asa, baixa pressão sob a asa e sensivelmente pressão atmosférica na lateral. Quando estes fluxos se juntam, criam estes vórtices que aqui ficavam visíveis devido às condições atmosféricos carregadas de humidade. A chatice é que as novas asas arredondadas foram assim definidas precisamente para não gerar vórtices. Agora, olhem para a imagem de cima outra vez e vejam lá para onde estão a apontar os corninhos. Se disseram “para a parte inferior da asa” acertaram e já não precisam de ir ao oftalmologista hoje. Estas asas poderão ajudar a criar um vórtice que acelera o fluxo por baixo da asa, ajudando-o a escoar. Está giro. O espírito do regulamento gosta? Vamos ver se não aparece a assombrar a garagem da Haas…

Bonitos vórtices na asa traseira do McLaren

 

Detalhes, muitos detalhes!

Avançando, começamos a ver mais detalhes interessantes a aparecer no Haas. Temos muitas setinhas na imagem abaixo, é bom sinal, certo? Por causa das coisas, começamos até por onde não há setinhas e vamos falar dos pontões. Desde as primeiras imagens que a Haas mostrou, o VF-22 parece ter ido ao ginásio e não esteve só a ver as vistas. Continua a ser muito largo mas tem aqueles sidepods bastante esculpidos. Não tanto como o primo de Maranello mas, estão a ver a ideia. A filosofia é semelhante. Temos um recorte inferior (não tão pronunciado como o da apresentação) e temos a parte superior trabalhada para criar, aparentemente, baixa pressão, acelerando o fluxo em direcção ao difusor onde se junta com o fluxo inferior. Reparem ali no posicionamento dos retrovisores e no que falámos antes, como eles direccionam esse fluxo para aquele “escorrega” na parte de cima dos pontões. Mas tínhamos setinhas para falar, não é verdade? Vamos a elas então.

Muitos detalhes no VF-22

Começando pela seta laranja, chamam a atenção os endplates da asa dianteira tão trabalhados. São os mais trabalhados que vimos até agora, surpreende de certa forma porque o regulamento parece muito restritivo quanto ao que se pode fazer ali mas a verdade é que a Haas arranjou maneira de colocar ali um pequeno aerófilo e recortar o painel.

Continuando a ver as setinhas, gostamos particularmente do que mostra a seta amarela. Lembram-se dos bargeboards? Eram aquelas árvores de Natal que existiam ali entre a roda dianteira e os sidepods. Pois bem, o regulamento deste ano baniu completamente os bargeboards. A Haas não parece muito de acordo com isso. Quer dizer, mais ou menos. O que é que temos ali então? O VF-22 parece ter ali a entrada dos túneis de Venturi trabalhados de tal maneira que fazem de bargeboard. Não é uma estrutura tão complexa como os extremos a que se chegou nos últimos anos com estas estruturas mas parecem realmente estar a tentar aproveitara entrada dos túneis para criar uma espécie de bargeboards. Por esta altura, claro, já se estão a perguntar: “e o espírito do regulamento?!”. Pois, o Espírito não vai ficar contente.

Bargeboard num Toro Rosso

Falta ainda uma setinha, não é verdade? E não passa despercebido aquele detalhe, temos a sharkfin destacada da carroceria. Isto ainda não tínhamos visto. Nas imagens seguintes percebemos o porquê desse estranho posicionamento, a Haas colocou uma saída de refrigeração onde deveria estar a shark fin. Curiosa solução, será que pretendem utilizar o ar quente para acelerar o fluxo por baixa da asa?

A shark fin separada da cobertura do motor

Seja como for, o VF-22 é um carro já muito trabalhado e cheio de detalhes interessantíssimos. Tivemos a confirmação de que o carro que vimos na apresentação da equipa era de facto um carro deste ano, uma versão inicial como nos disseram. Notam-se também algumas semelhantes com o Ferrari, a filosofia seguida parece seguir um caminho semelhante mas, felizmente, não temos um clone. São dois carros distintos. Vamos ver se vai ser suficiente para tirar o Haas do fundo da tabela.

 

 

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