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F1: antevisão do Grande Prémio do Bahrein

2022 arranca em Sakhir com novo regulamento

Cá estamos para mais um ano. Não digam que este ano a espera foi longa porque tivemos corridas até ao Natal. E depois falaram da última corrida até ao Carnaval. Por isso, isto ainda está fresquinho. Mas, na verdade, estávamos todos ansiosos para ver os novos carros.

Se chegaram há pouco à Fórmula 1, ou se ficaram presos atrás de uma palete de Rich Energy em 2019, ficam a saber que este ano entra em vigor uma revolução no regulamento aerodinâmico. Em que consiste? Bem, muito, muito resumidamente, os carros deixam de ter fundo plano e regressa o efeito de solo. Temos agora túneis de Venturi sob o carro em vez do tal fundo plano. O fundo é agora o principal elemento gerador de carga aerodinâmica do carro. Porquê? Para diminuir a dependência da carga gerada pelas asas e assim permitir aos carros rodar mais próximos uns dos outros e assim facilitar ultrapassagens em pista.

Comparação entre o fundo dos carros no anterior regulamento e no novo

Se preferirem a explicação detalhada do que muda, têm sempre o nosso canivete suiço dos novos regulamentos que podem encontrar aqui. Depois de clickarem nos anúncios todos que encontrarem, podem até imprimir e levar para a praia para ler. Se ler não é muito a vossa cena, podem ver a Antevisão da Época que passou na SportTV a 17 de Março, aparecem dois gatalhões com voz de mel a explicar.

Já viram? Óptimo, vamos até ao Bahrein.

Isso quer dizer que vamos ter uma revolução na ordem do campeonato?

Não necessariamente. Na verdade, esperamos que a ordem das coisas se mantenha mais ou menos a mesma. Ficávamos chocados se subitamente a Williams e a Haas passassem a ser as forças dominantes e Mercedes e Red Bull desesperassem para marcar um pontinho. Claro que mudanças de regulamentos são sempre uma boa oportunidade para as equipas tentarem dar um salto na sua posição. Já que falamos na Haas, são um bom exemplo, uma vez que optaram por ignorar completamente a temporada de 2021 para se focarem a 100% no carro de 2022. Os primeiros resultados são animadores, vamos ver se conseguem sair do fundo do pelotão já na qualificação.

A Ferrari também apostou forte nesta época para se reeguer. Depois do fiasco do SF1000, a casa de Maranello deu um trambolhão e começou a recompor-se. Afastada das vitórias desde 2019, a Scuderia apareceu cheia de força nos testes da pré-época e por Maranello respira-se confiança. Vamos ver se essa confiança se traduz em resultados.

Já em Brackley a Mercedes tem-se mostrado muito cautelosa, receosa até. No entanto, ver a Mercedes a esconder o jogo no início da época está longe de ser uma novidade. Talvez inspirados pelos ares do deserto, não seria surpreendente descobrir que o W13 andou carregado de sacos de areia este tempo todo. Se assim foi, está na hora de mostrar o jogo. Já este Sábado ficaremos a saber se o conceito radical do W13 funciona ou não.

E os carros, são todos iguais?

Graças a todos os santinhos e mais alguns, NÃO! Mas não mesmo! Uma preocupação de quase toda a gente, quando foi dado a conhecer este regulamento, era a de ser demasiado restritivo. É verdade que não permite carros de seis rodas, suspensões activas ou ventoinhas na traseira, mas as equipas acabaram por apostar em abordagens completamente diferentes entre si. Como assim, pergunta um leitor acabado de chegar? Uma vez mais, basta folhear este bonito catálogo de artigos e desfrutar da análise a cada um destes bonitos veículos automóveis. Também dá para clicar em anúncios, também dá para imprimir e ler na praia.

A variedade de soluções encontrada pelas equipas é fascinante

Voltando aos carros, a diversidade de soluções encontradas no campo aerodinâmico permite-nos esperar que estas se adaptem de maneira diferente a diferentes circuitos. Este palavreado todo para dizer que um carro que esteja muito bem num circuito, pode não estar noutro.

Sakhir é um circuito de média carga aerodinâmica. Alterna longas rectas com curvas lentas como a 1, a 8 ou a 10. A recta principal tem mais de 1200m e o circuito tem 3 zonas de DRS, aproveitando as longas rectas. Estas poderão trazer ao de cima uma das grandes dificuldades que as equipas encontraram na pré-época: o por… pro… porpoising… o bamboleio, porra! Se já estão a deitar as mãos à cabeça com este palavrão, aqui fica, uma vez mais, o resumo Europa-América da coisa. As equipas que não conseguiram atenuar este problema, poderão sofrer bastante no Bahrein.

Será que as equipas conseguiram atenuar os problemas de bamboleio nos carros?

O bamboleio não só é terrível para os pilotos, como pode danificar os carros e, caso entrem em stall num ponto de travagem, pode complicar bastante a travagem. A Red Bull e a McLaren, curiosamente as únicas equipas que optaram por um sistema pullrod para a suspensão dianteira, parecem ter os carros que melhor resolveram o bamboleio. Resta saber se à custa de desempenho ou não. As primeiras sessões de treinos livres foram bastante animadores para a malta de Milton Keynes, mas, pelo contrário não fizeram a equipa papaia sorrir… ou será que foram à mesma loja de sacos de areia da Mercedes?

Olha, voltamos outra vez à Mercedes! O W13, em teoria, seria um bom carro para Sakhir. Muito eficaz em curvas de baixa velocidade, baixa resistência aerodinâmica. Infelizmente para a Mercedes, vimos nos treinos livres um W13 muito bamboleante em recta. Os carros prateados andaram muito longe do topo nas velocidades máximas, o que será indicador de uma destas duas coisas: ou não podem andar mais depressa por causa do bamboleio, ou estão a levantar o pé. Aceitam-se apostas!

Estamos no deserto mas os motores estão congelados

Este ano trouxe uma pequena alteração a nível regulamentar: os motores passam a ter que utilizar obrigatoriamente gasolina com 10% de biocombustível. E vão buscar esse combustível ao congelador? Não, não é isso. O desenvolvimento dos motores está congelado desde março e assim estará até 2026, ano das novas unidades motrizes. Renault e Ferrari trouxeram motores completamente novos para 2022, Mercedes e Honda Red Bull actualizaram as unidades motrizes para se adaptarem à nova gasolina. O biocombustível tem um poder calorífico menor que a gasolina, por isso os construtores tiveram de trabalhar para recuperar alguma da potência perdida.

A Renault é um dos fabricantes com motor totalmente novo em 2022

Continuam redondos e pretos… mas agora são grandes!

Finalmente a Fórmula 1 abandonou as jantes dos Minis dos anos 70. Em 2022 os carros terão todos jantes de 18″ em vez das antigas 13″. A construção do pneu é completamente distinta para este ano e os compostos também sofrem alterações, em parte devido às novas regras de aquecimento dos pneus.

Sakhir é um circuito com um asfalto muito abrasivo e por isso a Pirelli trouxe os compostos mais duros para o Bahrein. Será um primeiro teste não só aos novos carros mas também aos novos pneus. Os testes ainda não nos permitiram perceber como é que cada equipa lida com o desgaste, este ano. Temos elogiado muito o F1-75, por exemplo, mas recorde-se que ainda o ano passado a Ferrari conseguia ser rápida numa volta, mas tinha dificuldades em manter os pneus a funcionar em longos stints. É um detalhe que poderá fazer a diferença e para o qual ainda temos poucos dados.

Novidades nos pilotos

Como acontece todos os anos, houve alterações nos pilotos das equipas. A mais notável, a saída de Valtteri Bottas da Mercedes e a entrada de George Russell, vindo da Williams. Russell aparece como a grande promessa da Academia Mercedes mas tem como adversário um senhor com 7 títulos de Campeão do Mundo. Espera-se um ano de aprendizagem da casa, antes de Russell assumir a liderança… ou será que vamos ter novamente um Leclerc-Vettel?

Quanto a Bottas, rumou à Alfa Romeo onde terá claramente o papel de líder da equipa. Ao seu lado, estará o rookie Guanyu Zhou. Zhou não impressionou na Fórmula 2 e terá agora em Bottas um bom termo de comparação.

A temporada de 2022 traz ainda dois regressos. Alexander Albon ocupa a vaga de George Russell na Williams, depois de um ano na prateleira da Red Bull. Albon mantém a ligação à Red Bull e será fundamental uma boa época, se pretende voltar à casa do touro.

O outro regressado é Kevin Magnussen. O dinamarquês foi um regresso de última hora, ao ser chamado já durante os testes do Bahrein para substituir Nikita Mazepin. Magnussen preparava-se para fazer mais uma época na Resistência, com a Cadillac no IMSA e a Peugeot no WEC, mas a chamada de última hora trouxe-o de volta à Haas, um ano depois. A grande incógnita para o Bahrein será saber como se aguenta o pescoço de Magnussen. Afastado da F1 há mais de um ano, não esteve sujeito ao intenso treino requerido para aguentar os esforços exigidos por um Fórmula 1.

Quem também vai estar a sofrer do pescoço no Domingo à noite, é Nico Hülkenberg. Se Magnussen recebeu uma chadada tardia, Hülkenberg foi mesmo de última hora. O alemão substitui o compatriota Sebastian Vettel no Bahrein, após este testar positivo à Covid19. Sem guiar um Fórmula 1 há mais de um ano, e sem qualquer tipo de preparação específica, qualquer resultado acima de terminar, já será uma vitória para Hulk.

Por fim, resta saber como estará Daniel Ricciardo. O australiano testou positivo à Covid na semana passada, e falhou a segunda semana de testes, já no Bahrein. Poderá condicionar Ricciardo para esta prova.

E é mais ou menos isto que estará em jogo no domingo, quando forem 15h00 em Portugal continental e se apagarem os semáforos em Sakhir. Venha a corrida!

Hülkenberg foi um convidado de última hora no Bahrein.

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